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A Caligrafia do Soluço & Poesia Anterior (Florisvaldo Mattos)

A Caligrafia do Soluço & Poesia Anterior (Florisvaldo Mattos)

R$20,00

Autor(a): Florisvaldo Mattos

Categoria: Poesia

ISBN: 8572780068

Dimensões:  21 X 15 X 1 cm

Edição:  1 – 1996

 Idioma: Português

 Páginas: 180

“O resultado da venda deste produto é destinado aos projetos culturais da Fundação Casa de Jorge Amado.”

SKU: 1000 Categorias: ,

Um construtor de prodígios

Florisvaldo Mattos publicou seu primeiro livro – Reverdor – em 1965. Não era a obra de um estreante – no que isto costuma significar de dicção vacilante ou simples busca de rumos. Estreou como afirmação, não como promessa: dotado de recursos retóricos muito característicos, autor de uma poesia densa e viril, cujas estruturas formais expressavam uma voz lírica tocada por acentos épicos. Fugia à tradição lírica brasileira – o “brasilirismo” apontado por Martins Fontes – em geral derramado e lacrimoso, de tendência intimista, em favor de um canto vigoroso. Refreando qualquer impulso confessional, deixava-se impregnar de um profundo sentimento agrário e do desejo de celebração da saga dos antigos barões que colonizaram o Brasil – no caso, especificamente, Garcia D’Ávila, um dos desbravadores da Bahia. Foram estas as duas vertentes temáticas de Reverdor, derivadas das experiências do poeta em Uruçuca, no interior da Bahia, região cacaueira onde nasceu e passou a adolescência. Como poeta do campo, Florisvaldo Mattos integra uma linhagem que tem predecessores ilustres na literatura ocidental, como o Hesíodo de Os Trabalhos e os Dias e o Virgílio das Georgicas, com seus poéticos ensinamentos sobre os segredos do labor rural. Mas, ainda que se revele impregnado do mesmo sentimento virgiliano da “justissima tellus”, o ideal telúrico que o inspira se resolve em termos de uma relação sofrida e conflituosa entre a terra e o homem que a cultiva, bem distante das doces amenidades da paisagem campestre, reduto de deleites idílicos, como a viam os vates setecentistas. É, pois, para ele, uma relação de sofrimento, regada a suor e sangue, nunca de paz.

Em 1975, o poeta publicou o seu segundo livro, Fábula Civil. Com ele, a voz lírica revigorava-se em novas direções e retraia-se o sentimento épico e agrário, mas sem desaparecer de todo, tão característico se mostra dos procedimentos do autor. Um dos mais longos e belos poemas do livro, o Memorial de Homem Alugado, é uma reafirmação da sua fidelidade à terra: nele, através de um processo de delegação poética, Florisvaldo transfere a um imaginário cavaleiro, símbolo do lavrador deserdado, o exercício do discurso do desencanto diante do duro mundo campesino:  se planto não é para mim / nem mesmo a sobra ruim / se ganho um fruto me levam / o suor de várias safras / e a terra não vai ser minha / nem mesmo depois de morto. A dicção assume dimensão política, ganha um teor de denúncia social, abordando uma realidade que continua dramática no Brasil de nossos dias.

Os temas líricos que se diversificam em Fábula Civil ganham novas direções em A Caligrafia do Soluço, mas, de um modo geral, fugindo sempre das confissões subjetivas, o poeta se compraz com o espetáculo variado do mundo, celebra as viagens que fez pelos caminhos distantes, seu sentimento de hispanidade, a memória dos amigos desaparecidos, as experiências de leitura e suas afeições literárias, breves reminiscências de infância e outras vivências pessoais, sua paixão pelo jazz, num universo temático que busca sempre depurar-se, evitando transbordamentos emocionais. Tudo isto, em suma, dentro de estruturas formais construídas com rigor, que refletem a eficácia de sua linguagem poética, plena de poderosas metáforas e imagens dinâmicas (com um facho de auroras no coração /; vertebras de assombro /; âncoras de fomes invasoras /; choro duro de homens e fornalhas /; moedas de crepúsculos /;). Florisvaldo Mattos elabora um contra discurso(Foucault) que não nomeia as coisas mas que as cria dentro do universo autônomo do texto, revelando-se o fabbro consciente e hábil no manejo de seus recursos artesanais. Alta poesia, em suma, de requintada fatura, de um dos poetas mais importantes da sua geração, na Bahia ou no Brasil. Pela riqueza de certos processos metafóricos um construtor de verdadeiros prodígios verbais.

Texto escrito por João Carlos Teixeira Gomes

Informação adicional

Peso 0,400 kg
Dimensões 21 × 15 × 1 cm

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